TRAIÇÃO E FALSOS AMIGOS

Amizade, Amor e Família
São muitas às referências à traição presente na amizade.
Há muitas afirmações existentes em duas frases denunciando
os falsos amigos: Sustento como um fato que se todos os homens
soubessem o que os outros dizem deles, não haveria mais do que
quatro amigos no mundo.

Os nossos amigos são o inimigo.

Mas será que a amizade é assim tão traiçoeira e a realidade tão
negativa quanto a retratada por 2 pensadores? As traições e os
falsos amigos existem, obviamente. Não é isso que está em jogo.
Mas temos que reconhecer igualmente que há muitas razões que podem
acabar ou diminuir uma amizade, sem que nisso haja propriamente traição.
Nem sempre as palavras de tal pensador sobre do fim da amizade - A amizade
que pode cessar nunca foi substancial - são verdadeiras

Mudamos. As nossas ideias, os nossos gostos, os nossos interesses mudam.
E isso pode também fazer com que hajam amizades que se percam devido a isso.
Por outro lado, há também a incompatibilidade entre os nossos espaços familiares
e a amizade. Quando os primeiros crescem, a amizade, ou certas amizades, podem
ser profundamente atingidas. É, no fim das contas, o que diz Aristóteles a propósito
da amizade e da multiplicação da mesma:

Aquele que é amigo de toda a gente, não é amigo de ninguém.

É uma fatalidade e com certo fundo de verdade. Não podemos multiplicar as nossas amizades.
Nem podemos multiplicar os nossos amores. O tempo de que dispomos é escasso para alimentar
muitas amizades e amores. O que dedicamos a uns, falta aos outros, inviabiliza-os.
É frequente na vida adulta: o número de amigos e as amizades cresce quando o amor à
escala da família falha ou está em crise. Ou vice-versa. Ou seja: não são as nossas
fraquezas ou o nosso lado mau e obscuro que acabam com as nossas amizades. É a vida,
outras pessoas ou é a família. Gostamos de colocar a amizade no seu plano mais alto.
Sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que houvesse outros bens, diz esta citação,
ilustrando essa nossa propensão de elevar a amizade até às suas expressões mais elevadas
e exigentes - um plano que se confunde com o do amor.E é legítimo que o façamos.
A amizade pode ser uma forma de amor, de fraternidade no sentido mais pleno do termo.
Há muitas definições de amizade, nestes termos. E no entanto a amizade pode não envolver amor.
Correntemente ela situa-se num plano menos exigente: a do convívio, do jogo social, da alegria partilhada:

A amizade mais não é do que alegria partilhada (A. Compte-Sponville).
Esta segunda perspectiva de ver a amizade, não a diminui verdadeiramente. Ela continua a ser fundamental.
Necessitamos do espaço de convívio, de jogo, de alegria, de comunicação, de interação da humanidade.
A nossa natureza humana não a dispensa. E no entanto não apreciamos que a amizade seja só isso.
Gostamos que ela envolva também fraternidade, cumplicidade, ajuda. E quando esta última dimensão
- muito próxima do amor, ou confundindo-se com o amor - falha, lamentávelmente, consideramos o fato como uma traição.

Fonte: http://jovens-pensamentos.blogspot.com/
Imagem: http://lethavras.zip.net/images/Falsidade.JPG